sexta-feira, 12 de setembro de 2014

Preconceito Linguistico e o papel da Escola



INTRODUÇÃO
Aprender a lidar com as diferentes formas de falar português em nosso país talvez seja um dos fatores de maior dificuldade que um professor de Língua Portuguesa venha a se deparar. O interesse pelo assunto nasceu a partir da análise de como estamos sendo bombardeados cada vez mais por regras gramaticais e "aulinhas" de "certo" e "errado" que tanto aparecem nos meios de comunicação, o que transformou a língua em fator predominante de exclusão, se a mesma não estiver de acordo com normas e regras. Entretanto Bagno (2010) afirma que a denominação preconceito linguístico é somente um disfarce para o preconceito social que de fato é predominante. O presente estudo pretende descrever a realidade em particular de uma escola verificando a prática de uma professora de Língua Portuguesa. O profissional dessa área exerce papel fundamental na extinção de qualquer preconceito desse tipo, uma vez que sua função é guiar o aluno no novo universo da língua culta. Dependendo do grupo socioeconômico cultural a que ele pertence maior será seu distanciamento da língua padrão (NEVES, 2003).  O ensino da língua engajado na luta contra desigualdades sociais e econômicas proporcionará àqueles que não utilizam a variedade padrão com frequência esse conhecimento para sua participação política na sociedade. O presente trabalho tem como objetivos a observação das aulas de Língua Portuguesa na Escola Estadual Maria Vicência Brandão, buscando identificar na prática docente esse comportamento. 

METODOLOGIA
O trabalho inicialmente baseou-se em um levantamento bibliográfico aliado à observação de uma aula de Língua Portuguesa em uma turma do 3º ano do Ensino Médio na Escola Estadual Maria Vicência Brandão, do distrito de Padre Fialho, Matipó (MG). A observação durou duas semanas e ao final dela foi realizada uma entrevista com a professora. O objetivo foi identificar atitudes promotoras da uma consciência a respeito do preconceito linguístico, bem como a necessidade de conhecer o comportamento de todos os envolvidos no processo.

RESULTADOS E DISCUSSÕES 
Durante a observação percebeu-se que a professora sempre procurava considerar, como ponto de partida para sua ação educativa, os conhecimentos que os alunos possuíam, advindos das mais variadas experiências sociais, afetivas e cognitivas a que estão expostos. Em entrevista por escrito a mesma afirmou que “Detectar esses conhecimentos prévios não é uma tarefa fácil. Implica que os professores estabeleçam estratégias didáticas para fazê-lo. A observação acurada dos alunos, bem como o conhecimento da realidade dos mesmos é um instrumento essencial nesse processo”. Isso corrobora com a afirmação de que o professor que favorece o diálogo possui uma diferenciação em seu trabalho e possibilita ao aprendiz maior segurança (PERRENOUD, 2000). Nessa perspectiva, o professor de observado mostrou-se excelente mediador entre os jovens e os objetos de conhecimento, organizando e propiciando espaços e situações de aprendizagens que articularam os recursos e capacidades afetivas, emocionais, sociais e cognitivas de cada um, seus conhecimentos prévios os conteúdos trabalhados. Em relação ao uso da norma culta em sala percebeu-se que a professora procura sempre mostrar aos alunos que é de extrema importância, mas eles devem saber quando e onde utilizá-la, não abandonando sua cultura, não discriminando os colegas de diferentes regiões, idades ou classes sociais. 

CONSIDERAÇÕES FINAIS
O professor, muitas vezes, não se reconhece como capaz de transformar a realidade em que atua, porque coloca a fonte de todos os problemas fora do seu âmbito de atuação. No entanto, sempre há situações diferenciadas. É preciso coragem para ousar. É preciso estimular a utilização de atividades diversificadas. Refletir sobre a língua também é um compromisso de cidadania e o professor tem a participação efetiva nesse processo, uma vez que sua atuação deve seguir o sentido da inclusão e não da discriminação. Porém, a Língua Portuguesa está virando um mercado capitalista exacerbado, no qual os gramáticos tradicionais editam as leis e o consumidor ao invés de fazer papel de um conhecedor nativo da sua língua, é mais um consumidor alienado sem enxergar que está contribuindo para o descaso com a mesma.

REFERÊNCIAS
NEVES, Maria Helena de Moura. Que gramática ensinar na escola? São Paulo: Contexto, 2003.
BAGNO, Marcos. Preconceito linguístico. São Paulo: Edições Loyola, 2001.
POSSENTI, Sírio. Por que (não) ensinar gramática na escola. Campinas: Mercado das Letras, 1997.

VIANA, Nildo. Educação, Linguagem e Preconceito Lingüístico. Plurais. vol. 01, n. 01. Jul./Dez. 2004.

GROSSI, Esther Pilar. Alfabetização: Uma questão popular. SMED, 1982

PERRENOUD, Philippe. Pedagogia Diferenciada: Das intenções à ação. Porto Alegre: ARTMED, 2000.
ILARI, Rodolfo; BASSO, Renato. O português da gente: a língua que estudamos a língua que falamos.  São Paulo: Contexto, 2007.
______. A Linguística e o ensino da língua portuguesa. São Paulo: Contexto. 2001.
CUNHA, Celso Ferreira da. Gramática da Língua Portuguesa. 12 ed. Rio de Janeiro: FAE, 1992.

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