INTRODUÇÃO
Aprender a lidar com as diferentes
formas de falar português em nosso país talvez seja um dos fatores de maior
dificuldade que um professor de Língua Portuguesa venha a se deparar. O
interesse pelo assunto nasceu a partir da análise de como estamos sendo
bombardeados cada vez mais por regras gramaticais e "aulinhas" de
"certo" e "errado" que tanto aparecem nos meios de comunicação,
o que transformou a língua em fator predominante de exclusão, se a mesma não
estiver de acordo com normas e regras. Entretanto Bagno (2010) afirma que a denominação
preconceito linguístico é somente um disfarce para o preconceito social que de
fato é predominante. O presente estudo pretende descrever a realidade em
particular de uma escola verificando a prática de uma professora de Língua
Portuguesa. O profissional dessa área exerce papel fundamental na extinção de
qualquer preconceito desse tipo, uma vez que sua função é guiar o aluno no novo
universo da língua culta. Dependendo do grupo socioeconômico cultural a que ele
pertence maior será seu distanciamento da língua padrão (NEVES, 2003). O ensino da língua engajado na luta contra desigualdades
sociais e econômicas proporcionará àqueles que não utilizam a variedade padrão
com frequência esse conhecimento para sua participação política na sociedade. O
presente trabalho tem como objetivos a observação das aulas de Língua
Portuguesa na Escola Estadual Maria Vicência Brandão, buscando identificar na
prática docente esse comportamento.
METODOLOGIA
O trabalho inicialmente
baseou-se em um levantamento bibliográfico aliado à observação de uma aula de
Língua Portuguesa em uma turma do 3º ano do Ensino Médio na Escola Estadual
Maria Vicência Brandão, do distrito de Padre Fialho, Matipó (MG). A observação
durou duas semanas e ao final dela foi realizada uma entrevista com a professora.
O objetivo foi identificar atitudes promotoras da uma consciência a respeito do
preconceito linguístico, bem como a necessidade de conhecer o comportamento de
todos os envolvidos no processo.
RESULTADOS E DISCUSSÕES
Durante a observação percebeu-se que a professora sempre
procurava considerar, como ponto de partida para sua ação educativa, os
conhecimentos que os alunos possuíam, advindos das mais variadas experiências
sociais, afetivas e cognitivas a que estão expostos. Em entrevista por escrito a
mesma afirmou que “Detectar esses conhecimentos prévios não é uma tarefa fácil.
Implica que os professores estabeleçam estratégias didáticas para fazê-lo. A
observação acurada dos alunos, bem como o conhecimento da realidade dos mesmos
é um instrumento essencial nesse processo”. Isso corrobora com a afirmação de
que o professor que favorece o diálogo possui uma diferenciação em seu trabalho
e possibilita ao aprendiz maior segurança (PERRENOUD, 2000). Nessa perspectiva, o professor de observado
mostrou-se excelente mediador entre os jovens e os objetos de conhecimento,
organizando e propiciando espaços e situações de aprendizagens que articularam
os recursos e capacidades afetivas, emocionais, sociais e cognitivas de cada
um, seus conhecimentos prévios os conteúdos trabalhados. Em relação ao uso da
norma culta em sala percebeu-se que a professora procura sempre mostrar aos
alunos que é de extrema importância, mas eles devem saber quando e onde utilizá-la,
não abandonando sua cultura, não discriminando os colegas de diferentes regiões,
idades ou classes sociais.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O
professor, muitas vezes, não se reconhece como capaz de transformar a realidade
em que atua, porque coloca a fonte de todos os problemas fora do seu âmbito de
atuação. No entanto, sempre há situações diferenciadas. É preciso coragem para
ousar. É preciso estimular a utilização de atividades diversificadas. Refletir
sobre a língua também é um compromisso de cidadania e o professor tem a
participação efetiva nesse processo, uma vez que sua atuação deve seguir o
sentido da inclusão e não da discriminação. Porém, a Língua Portuguesa está
virando um mercado capitalista exacerbado, no qual os gramáticos tradicionais
editam as leis e o consumidor ao invés de fazer papel de um conhecedor nativo
da sua língua, é mais um consumidor alienado sem enxergar que está contribuindo
para o descaso com a mesma.
REFERÊNCIAS
NEVES,
Maria Helena de Moura. Que gramática
ensinar na escola? São Paulo: Contexto, 2003.
BAGNO,
Marcos. Preconceito linguístico. São Paulo: Edições Loyola, 2001.
POSSENTI, Sírio. Por
que (não) ensinar gramática na escola. Campinas: Mercado das Letras,
1997.
VIANA, Nildo. Educação,
Linguagem e Preconceito Lingüístico. Plurais. vol. 01, n. 01.
Jul./Dez. 2004.
GROSSI, Esther Pilar. Alfabetização: Uma questão
popular. SMED, 1982
PERRENOUD,
Philippe. Pedagogia Diferenciada: Das
intenções à ação. Porto Alegre: ARTMED, 2000.
ILARI, Rodolfo; BASSO, Renato. O
português da gente: a língua que estudamos a língua que falamos. São Paulo: Contexto, 2007.
______. A Linguística e o ensino da
língua portuguesa. São Paulo: Contexto. 2001.
CUNHA,
Celso Ferreira da. Gramática da Língua
Portuguesa. 12 ed. Rio de Janeiro: FAE, 1992.